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Desde maio do ano passado, quando Michel Temer assumiu interinamente
a Presidência da República, 62% de todas as novas leis aprovadas no
Congresso foram inicialmente propostas pelo Palácio do Planalto - a
maior taxa dos últimos dez anos. Os números revelam como o peemedebista -
que construiu sua carreira política na Câmara dos Deputados, onde foi
eleito presidente da Casa três vezes - interrompeu a trajetória de queda
na proporção de leis aprovadas cujo autor é o Executivo. Nos primeiros
anos após a promulgação da Constituição de 1988, muitos cientistas
políticos temiam que a combinação de presidencialismo com
multipartidarismo não funcionaria de jeito nenhum. A avaliação era que
um presidente não conseguiria governar tendo de negociar com um
Congresso disperso e fragmentado. Hoje, porém, está claro que o
presidente consegue não apenas governar formando coalizões, mas também
dominar a pauta legislativa de maneira quase hegemônica. O fenômeno
entrou em pauta nas discussões sobre a eleição da nova Mesa Diretora da
Câmara marcada para a próxima quinta-feira. Ao lançar sua candidatura no
início do mês, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) criticou o fato. Para
analisá-lo, o Estadão Dados compilou a autoria de todas as 5.719 leis
aprovadas de 1989 até hoje, com base nos registros do Congresso. Os
dados mostram que, até meados do segundo mandato de Fernando Henrique
Cardoso (1999-2002), cerca de três a cada quatro novas leis tiveram o
Executivo como autor - taxa que permaneceu no mesmo patamar nesse
período. Desde então, entretanto, o porcentual passou a cair de maneira
quase constante. De janeiro a maio de 2016, antes de Dilma Rousseff ser
afastada, a proporção chegou ao menor valor da série: 26%. O movimento
parecia revelar um aumento paulatino do protagonismo do Legislativo na
confecção das leis, conforme apontou estudo do Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (Ipea) em 2015. "Naquela época esse era um padrão
que a gente identificava. Mas, de fato, os números mudaram", afirma o
autor do estudo, o pesquisador Acir Almeida. Segundo ele, há uma
hipótese que se mostra consistente ao longo do período para explicar a
mudança. "A dominância legislativa pelo Executivo varia em função das
preferências da coalizão do governo. Na era PT, a base do governo no
Congresso era bastante heterogênea, e era mais difícil que os projetos
apresentados pelo governo agradassem a toda a base. Assim, os
congressistas apresentavam mais seus próprios projetos." A lógica é que,
quando as preferências de deputados e governo se alinham, é mais fácil
que os principais projetos venham do governo, que tem mais ferramentas
para determinar a pauta e fazer com que as propostas sejam analisadas
mais rapidamente - como, por exemplo, usando medidas provisórias. Essa
explicação é corroborada pela pesquisa do cientista político Carlos
Pereira, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele e dois outros
pesquisadores analisaram a ideologia de congressistas desde 1988 e
descobriram que os períodos com maior dominância do Executivo coincidem
com os governos em que a coalizão governista é mais homogênea. "A
coalizão de Temer é a mais homogênea e mais proporcional desde a
redemocratização, e, além disso, a preferência mediana de seu gabinete
se aproxima bastante da preferência mediana do Congresso, o que não
ocorria desde FHC. Isso faz com que Temer tenha menores custos de
governo e consiga obter um grande apoio legislativo", disse Pereira. A
hipótese também é levantada por Antonio Queiroz, diretor do DIAP
(Departamento Intersindical de Análise Parlamentar).
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terça-feira, 31 de janeiro de 2017
Executivo é autor de 62% das leis aprovadas no país
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